domingo, 7 de março de 2010

O tiroteio, a morte e a dúvida



Manhã de sábado, nove de janeiro de 2010, o dia estava fresco e com o clima ótimo para subir o morro e caminhar pelos becos. Umas das maravilhas do Romão era o vento, era só sobrar um tempinho entre as palestras, nós já íamos para frente do Cemuca, sentava na varanda, e nos refrescava.

Como disse antes, estavam todos com seus uniformes e ferramentas, prontos para subir o morro. Nos dividimos em grupos de três, e em cada grupo foi colocado um morador que conhecia a comunidade. O Pr. Godoy com o esboço de um mapa, dividiu os becos entre os grupos e nos orientou a subir até nos encontrar no ponto mais alto do moro, onde se localizava a quadra. Na hora da divisão, todos que conheciam a comunidade, falavam sobre um lugar chamado “Beco 8”. Nenhum dos voluntários falou nada na hora, mas eu tenho certeza que alguns pensaram:

“Deus, não me deixe pegar o Beco 8”.

E Adivinha quem pegou o Beco 8?

O meu grupo!

Pra falar verdade, de inicio me bateu um principio de medo, mas logo me tranqüilizei, pois lembrei que tudo que iria acontecer, estava nas mãos de Deus.


Saímos juntos pelas ruas. Lá estavam os amarelinhos, parecia o grupo dos correios. Não tinha ninguém que não parasse e olhasse. Em nosso peito o orgulho de estar carregando a bandeira da vida: Jesus Cristo.
Chegamos ao ponto onde terminava a rua e começava os becos, e ali os grupos se separaram, cada um no seu beco. Fui o primeiro do meu grupo a bater na porta de uma casa. Uma mulher me atendeu e logo surgiram algumas crianças ao redor. Depois de uma apresentação, fomos convidados a entrar, e assim fizemos. Ali conversamos um pouco, lemos a palavra de Deus e oramos com aquela família. O que mais me impressiona, é ver como a comunidade nos recebe bem e de forma calorosa. Em 99% das casas, fomos bem atendidos. Era só falar que estávamos ali para falar do amor de Cristo que todos abriam as portas, independente da religião que seguiam. Uns não tinham nada dentro de casa, a não ser uma cama, geladeira e fogão, mas lá estava aquele sorriso, de orelha a orelha. Enquanto via aquela situação, eu ficava pensando em muitas pessoas que eu conheço que tem muito dinheiro, mas que não são felizes.

Neste momento, um dos grupos parou um menino que andava pelo beco. Seu nome era João (nome fictício), e parecia estar com muita pressa, mas parou e aceitou ouvir o que o grupo tinha a dizer. Rapidamente o grupo falou algumas palavras e orou, e ele seguiu o seu caminho.

Devagar, de casa em casa, fomos cumprindo o nosso trajeto. Já estávamos mais tranqüilos, o medo e ansiedade de bater nas portas já mão existia mais. Mas nem imaginávamos o que estava por vir.

Chamei em uma casa em frente a um bar. Logo apareceu uma mulher que estava lavando roupa na varanda. Depois de alguns segundos conversando, ela nos deixou subir a escada para conversarmos. A vista era maravilhosa. Um lindo canal com muitos navios parados fazia parte da paisagem. Quando olhei para uma escada que dava passagem ao andar de cima, vi dois pés descendo, um estava engessado. Logo pensei: “Nossa, é o marido dela, e ele não gostou da nossa presença!” quando vi, era um negão, parecido com meu pai, mas um pouco maior! Ele sentou na cadeira e ficou nos observando. Rapidamente, ele entendeu qual era o nosso propósito e sua primeira frase foi: “Eu e minha família, precisamos mais de Jesus Cristo”. O nosso coração foi a mil. Lá estava a nossa grande oportunidade de compartilhar o amor de Deus. A conversa foi maravilhosa e depois disso tudo, aprendi que não devemos julgar as pessoas pela aparência, pois o negão foi muito legal com agente. Neste momento duas pessoas armadas, portando pistolas passaram em frente a casa em que estávamos. Seus olhares eram de desconfiança e parecia que estavam nos vigiando. Saímos rumo a outra casa, onde entramos e começamos a compartilhar do amor de Deus. A porta da casa ficou aberta, e enquanto falávamos a um jovem dentro da casa, Aconteceu um TIROTEIO. Foi uma rajada de uns desoito tiros. Enquanto o meu companheiro de grupo lia a bíblia, eu vi passando em frente à porta dois policiais armados e correndo. Mas para não atrapalhar a palavra, eu fiquei quieto. Logo após, o Pr. Beto, um dos pastores responsáveis por nós, apareceu na porta com um olhar tenso. Assimilando os tiros, a presença da policia e o olhar dele, já entendi que algo errado tinha acontecido. A intenção dele é que terminássemos rapidamente a visita e descermos para a base.
O Pr. Godoy já estava no ponto mais alto do morro, nos aguardando. Preocupado com a situação, ele acenava chamando um grupo que estava logo abaixo. O grupo não entendeu a intenção e começou a acenar com as mãos, achando que era algum tipo de brincadeira. Os traficantes que passaram no momento questionaram:
“Pra quem você está acenando”?

O momento foi tenso mas ele respondeu:

“Para o meu grupo de evangelismo”.

Logo ele ligou para o grupo e lhes informou a situação. Ali também se encontrava o Rafael, o que tem o sonho de ir para a África. O Pr. Godoy deu o comando para todos descerem, mas Rafael o questionou, pois não queria descer, e sim fazer algo para mudar aquela situação. Com muita calma, vendo o coração aflito de Rafael, Pr. Godoy o explicou que momentos como estes, o melhor a fazer é deixar o local, pois o risco é intenso. Mesmo com essa atitude infantil, ainda admiro Rafael por não ter medo, e querer ajudar em alguma coisa.

Em meio a todos os tiros, uma MORTE, a de João (nome fictício), de 16 anos de idade. Ele tinha envolvimento com o tráfico, e estava jurado de morte. Oito tiros o acertaram, o matando na hora. Tem coisas que só acontece em um morro. Uma delas é a informação rápida entre os moradores. Em poucos minutos, não tinham mais ninguém pelas ruas, e algumas portas do comércio estavam fechadas. Logo que terminou a minha visita, descemos rápido juntos com o Pr. Beto até a base. Éramos o ultimo grupo a descer. Já na base, todos comentavam e compartilhavam a experiência do que viram, ouviram e sentiram. O que mais me impressionou, era que não tinha um sequer voluntário nervoso ou aflito. Todos mantiveram a calma ao descer, e apesar do ocorrido, ninguém desistiu de continuar, este fato deu força a todos que estavam participando. Enquanto todos comentavam do ocorrido, vi pela janela da cozinha muitas viaturas chegarem ao pé do morro, onde estávamos instalados. Juntos as viaturas um carro chamado rabecão, o que tira o morto do local. Olhando fixo para aquela cena, por alguns minutos, quatro policias apareceram carregando um corpo dentro de um pano e o colocou dentro do carro. Ali estava o corpo de João, o menino em que a minutos antes de sua morte, foi parado por nós e teve a oportunidade de aceitar a Jesus Cristo. Naquele momento, em fração de segundos, muitas coisas passaram pela minha mente. Uma dela é a DÚVIDA:

“Será que João se salvou?”

“Onde ele está agora?”

Outra conclusão que tirei, é que nossa vida é muito frágil nesta terra, vivemos correndo um perigo invisível, no carro, na calçada, em nossa rua, em todos os lugares. Não temos a certeza de que horas vamos partir, mas temos certeza que se partimos, vamos para um lugar melhor.

“Você tem né?”

Depois dessa tremenda experiência, ficamos mais uma semana recebendo treinamentos teóricos na base. O que passamos no morro do Romão foi só um gostinho do que íamos enfrentar no morro do Jaburuna, local onde passaríamos 15 dias no prático, subindo e descendo o morro, de manhã e de tarde, todos os dias.
Próxima Materia: “Os Milagres do Jaburuna”.

Aguardem!

Para confirmar o fato, vou disponibilizar dois sites que relataram o tiroteio.

Cemuca
http://www.cemuca.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=231&Itemid=6


Juntas de Missões Nacionais
http://www.jmn.org.br/noticias.asp?codNoticia=1389&codCanal=38



Apresentando o Plano de Salvação no Morro do Romão


Até a Próxima!

3 comentários:

  1. Coé coé cara.. to acompanhando, mas não é vc que tá escrevendo isso não neh!? Ta muito bem feito.. kkkkkkkkkkk

    abraço
    Café!

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  2. Caramba Tawan, tá escrevendo muito bem heim ! kkk' Acho que não teria tanta coragem como você teve, apesar da experiência de vida que aprendemos nessas situações !

    Beeijos :*

    http://supbox.blogspot.com/

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  3. a Experiença que ele passoou deve ter siido muiito liindo mesmo,pode ter certeza Deus tem mais pra vc,:)
    se Baseiia nesse trechinhu da biblia
    O que ninguém nunca viu nem ouviu,
    e o que jamais pensou
    que podia ACONTECER,
    foi isso o que Deus preparou,
    para aqueles que o amam,*

    Fiica com Deus.

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